O cumulo da hipocrisia

Paixão número um do brasileiro afundada em podridão

A prisão do dirigente José M. Marín da CBF e todos os escândalos imputados à FIFA que culminou com a saída de Joseph Blatter estão manchando o esporte. Ninguém é inocente ao ponto de acreditar que a corrupção passava longe do futebol, mas parece que a coisa é mais feia do que imaginávamos. Os vários escândalos recém publicados nos veículos de imprensa nos levam crer que a maioria das coisas sequer um dia ficaremos sabendo.

Historicamente, esse é um problema que não se restringe ao nosso país. Vamos a alguns exemplos: No campeonato Italiano de 1927, 1980 e 2006 houve suborno e/ou manipulação de resultados. Algumas equipes foram punidas com rebaixamento e várias pessoas foram presas. No México, em 1990, a seleção foi desclassificada da Copa do Mundo de 1990 depois de utilizar jogadores acima do limite de idade permitido na fase de classificação para o Mundial Sub-20 de um ano antes. Em Portugal tivemos o episódio que ficou famoso como "Apito Dourado" e que ainda está sendo analisado pela justiça ainda hoje. Na Liga Turca (2010-2011) houve escândalo envolvendo o então campeão Fenerbahçe, o vice Trabzonspor e o vencedor da Copa da Turquia, o Besiktas. 

Em 2006 a Juventus foi rebaixada na Itália e outros times também foram punidos

Existiram casos envolvendo seleções e, para lembrar algumas, cito duas cujo Brasil foi vítima. Grandes suspeitas pairam até hoje em relação ao Mundial de 1978 na Argentina que garantiu aos donos da casa o título mundial. Outro caso famoso foi incidente nas eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 1990 que ficou mundialmente conhecido como "fogueteira do Maracanã". No Brasil tivemos o caso Ivens Mendes em 1997 usado como pretexto para cancelar o rebaixamento de Fluminense e Bragantino e, mais recentemente em 2013 (caso Héverton) outra decisão em Tribunais beneficiou os cariocas. Sem contar a maior de todos os tempos, a Máfia do Apito de 2005.

Então... esse problema não vem de hoje!

Mas em um espaço de tempo muito curto, vários assuntos envolvendo boa-fé, lealdade e lisura foi pauta. Como se não bastasse o que aconteceu na FIFA e com o ex-presidente da CBF, vejamos outras situações bem recentes: 

Léo Moura x Eurico Miranda – O dirigente diz que o atleta estava apalavrado com o clube cruz-maltino e que ele cedeu a pressão do torcedor rubro-negro, preferindo o Coritiba. Por pior que seja, até aí tudo bem. Mas o pior foi ler e escutar em todos os meios que “palavra não vale nada, o que vale é o que está escrito”. Hã!? Como assim? É a isso que o futebol quer ficar atrelado?

Tatuagem de flamenguista indignado ficou famosa nas redes sociais

A falência do Guarani de Campinas – Como um time com tantas glórias, o único campeão nacional do interior está prestes a acabar? Dívidas, execuções, má gestão... um patrimônio do futebol que fecha suas portas porque simplesmente não teve competência para gerir seus negócios. Um amadorismo sem precedentes que derruba um gigante de São Paulo de maneira não antes vista.

Copa do Mundo x Legado – Em alta, mas meio que na “surdina”, se fala muito do “verdadeiro legado” deixado pelo Mundial de Seleções. Exceto aqueles estádios levantados em centros de futebol, arenas que custaram bilhões aos cofres públicos viraram verdadeiros elefantes brancos. Um custo exagerado se comparado ao que a realidade do mercado da construção civil comporta combinado com atraso em obras essências para a população que não foram entregues ainda, a mais de um ano do torneio.

O prejuízo de três "elefantes brancos" da Copa – os estádios Mané Garrincha (Brasília - foto), Arena da Amazônia (Manaus) e Arena Pantanal (Cuiabá) – para os respectivos contribuintes já atingiu pelo menos R$ 10 milhões desde o fim do Mundial, de acordo com um levantamento feito pela BBC Brasil.

Corinthians x Amarilla – Depois de um benefício gritante no Brasileirão de 2005 e a arbitragem desastrosa de Márcio R. Freitas naquele fatídico jogo, o time paulista sente o gosto amargo da influência externa. Custa muito na história de um clube derrubar um projeto como aquele. Fortes indícios colocam em suspeita a classificação do Boca Jrs. diante os brasileiros na partida eliminatória da Libertadores de 2013. #poenodvd?

Ex-presidente da Portuguesa acusa Unimed e Fluminense – Sem provas, mas cuspindo marimbondos, Ilídio Lico acusou o clube carioca e a empresa de planos de saúde estar por trás do caso Héverton. Horas depois da publicação desta entrevista, porém, o dirigente voltou atrás.

Tricolor das Laranjeiras caiu no campo, mas novamente, voltou pelo tapetão

A verdade é que ninguém quer perder. Para quem investe milhões em contratações, salários e estrutura numa paixão como é o futebol, porque não tentar um atalho para alcançar seus objetivos? Consequentemente, onde há dinheiro os interesses afloram. Gente que não tem nada haver com o esporte, mas com “no hall” se habilita nos processos. Superfaturamento, dinheiro público, apostas, transmissões em mídia, etc., etc., etc. e mais um par de etc.’s criam esse círculo nojento.

Existem vários conceitos, muitas definições... mas a verdadeira finalidade de “esporte” é a competição justa e sadia entre adversários (não inimigos) para medir qual deles é o melhor em determinada modalidade. Mas o futebol por si só, a cada dia que passa, está perdendo o sentido básico nos dando a idéia de que não é um esporte para gente séria! Portanto, a sede por vitória e o interesse econômico que o norteia estão enfraquecendo o principal entretenimento do brasileiro. Não acredito que a corrupção vai acabar com o futebol, mas seu enfraquecimento vai lhe tirar espaços no meio tornando-o sinônimo de coisa errada. Uma imagem sim, que em longo prazo, pode sim transformar uma das nossas maiores culturas em pó.

Saudações Coloradas

Imagens: UOL, Troll Bola, BBC e Esportes R7