terça-feira, 26 de agosto de 2014

Trocar de técnico resolve? Qual o verdadeiro problema do futebol brasileiro?

Pressões forçam mudanças constantes no comando técnico e a continuidade resta prejudicada
 
Sempre foi assim! Resultados ruins, sequencias negativas... sobra para quem? Para o treinador, claro. Especialmente no Brasil, a providência imediatista preferida dos dirigentes é a demissão do chefe da comissão técnica. O resto fica para depois porque é mais fácil dar uma satisfação ao seu torcedor fazendo isso do que mudar aquilo que realmente precisa ser mudado.
 
Doriva (foto) e C. Roth foram demitidos após resultados ruins no último final de semana

Restaram poucos “intocáveis” neste Campeonato Brasileiro. Nem chegamos na metade da competição e poucos seguem trabalhando. M. Oliveira (Cruzeiro), M. Ramalho (São Paulo), A. Braga (Internacional), M. Menezes (Corinthians), C. Borges (Fluminense), E. Baptista (Sport), O. Oliveira (Santos) e V. Mancini (Botafogo) são os oito profissionais que resistiram as primeiras dezoito rodadas. Os demais times, todos já fizeram mudanças. Alguns mais de uma até.

Nada novo, Sempre foi assim!
 
A passagem de E. Moreira pelo Grêmio, por exemplo, rendeu 52,77% de aproveitamento. Muito abaixo do que poderia, é verdade. Caiu por merecimento. Mas Felipão, em quatro partidas, está com 50% de aproveitamento. Por se tratar de um trabalho novo, uma filosofia diferente em momento inicial de implementação, não vamos alongar muito a respeito. Só quero lembrar que o sistema TÃO contestado de E. Moreira foi trazido de volta e o time melhorou. 
Na maioria das “trocas”, o efeito positivo não foi sentido e as equipes continuam a “mercê” de melhores resultados. Alguns chegaram a piorar. Exceção a regra apenas nos ex-lanternas Flamengo e Figueirense com Luxemburgo e Argel, respectivamente.
 
Jayme de Andrade, interino efetivado depois campeão da Copa do Brasil em 2013 demitido na folga no início da temporada, avisado pela imprensa  

O novo comandante do clube carioca tem a melhor média de aproveitamento do Brasileirão, 83,30%. M. Oliveira, do grupo dos intocáveis, vem em segundo com 76,40% e o ex-zagueiro Colorado que trabalha no time catarinense vem em terceiro, com 72,20%. Verdadeiros milagres em dois times tão ruins e limitados como Flamengo e Figueirense, que merecem nossa atenção.
Luxa chegou como piada, motivo de chacota. Argel era mais uma tentativa maluca de tentar o impossível no Figueira. E deu certo nos dois casos! Mas pergunto... até quando eles vão conseguir tirar leite de pedra? Resultados negativos “naturalmente” vão acontecer. Aí serão questionados tendo feito o impossível até agora? Ambos (Flamengo e Figueirense) já fizeram mais de uma troca de comando. Esses Clubes possuem elencos tecnicamente fracos. No rubro-negro carioca, inclusive, não lembro de um time tão ruim. Óbvio, isso não é culpa dos treinadores.
 
André do CA Mineiro destaque na mídia por uma foto que "indica" embriaguez em sua folga

A necessidade gritante por resultados e o imediatismo impregnado na cultura do nosso futebol está invertendo um juízo de valor antes até tolerável pela amadorismo que existia, mas que pela nova realidade, esse contexto novo, acaba se desvirtuando. Um futebol globalizado sem proteção alguma, Clubes daqui concorrendo com o poderio externo, desigual e desleal dos euros e petrodólares. Tudo força as entidades a pagar uma conta muito cara por atletas de baixa qualidade. Jogadores jovens com baitas contratos sem ter provado nada ainda na carreira, veteranos sem espaço lá fora que voltam com status de heróis, verdadeiros salvadores da pátria e outros sem qualidade alguma para sair do futebol brasileiro, ídolos aqui compondo os elencos ruins do Brasileirão (não só de Figueirense e Flamengo).
Por qualquer jogadorzinho “meia tigela” se faz um esforço bruto para contratá-lo, mantê-lo e motivá-lo. Profissionais de segunda e terceira categoria tratados como estrelas. Aí eu indago: “que culpa tem os treinadores”?
 
Bernard acusado de ser "jogador de Twitter" pelo treinador Mircea Lucescu do Shakhtar Donetsk. Motivo? Não se apresentar para cumprir seu contrato

Desde a Lei Pelé que exterminou a base por conta da eliminação do passe, até o vergonhoso 7 x 1 em casa na disputa da semifinal da Copa do Mundo, o Brasil se tornou um depósito de lixo em termo de jogadores. Não se consegue renovar seu quadros de treinadores e os dirigentes convivem intensamente com a cobrança exagerada por resultados imediatos sem conseguir trabalhar estrutura e categorias de base em excelência. Se fabrica jogadores tipo exportação para equilibrar finanças. Quem consegue trabalhar com seriedade, transparência e coerência morre na praia também. Porque? Oras, em um esporte onde malandragem, jeitinho e falta de palavra ganha jogo, não podemos falar de mudanças se nós torcedores, críticos, amantes do futebol não tomar consciência que a questão é institucional, legal e cultural.
Enquanto a indústria da TV precisar pagar a conta se aproveitando do adiantamento de cotas para centralizar o poder, enquanto os Clubes continuar reféns de um sistema arcaico empurrado de barriga há anos, enquanto os sanguessugas da polêmica continuar enriquecendo as custas de bobagens e baboseiras, enquanto os boleiros sem cultura alguma se deixar levar pelo assessoramento ruim e falta de profissionalismo... a dança dos técnicos é a única medida que restará aos dirigentes. Média de praticamente uma troca por rodada!

Saudações Coloradas
 
Imagens: ClicRBS, Jornal de Hoje e Blog Flamengo até Morrer.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Rafael,

    O que todos dizem é que faz parte da nossa cultura demitir treinadores, que é um desrespeito com esses profissionais, que há muita injustiça, e não sei mais o quê.
    O fato é que a maioria são despreparados, são desunidos, e mais do que isso, há uma certa conformação e acomodação geral desses profissionais. Por que não fazem um movimento do tipo Bom Senso para reivindicar melhores condições de trabalho? Ainda é uma questão saber se muitos treinadores que temos aí, não ganharam mais dinheiro nas rescisões, do que aqueles que ganharam títulos.

    Sobre o Grêmior, ainda é muito cedo para chegar a uma conclusão, mas tirando aquelas boas atuações na primeira fase da Libertadores, temos uma enorme diferença no modo do Grêmio atuar com Enderson, e o modo Felipão.
    Basta comparar o jogo diante do Coritiba e o modo como o Grêmio atuou contra o Corínthians.
    Eu vi o Grêmio de domingo passado com uma postura completamente diferente. Primeiro, que está quase provado que jogar com dois meias que marcam, também é uma boa estratégia.
    Felipão vem corrigindo o posicionamento de Giuliano e Luan, porque sabe que está no desempenho desses dois meias que não gostam de marcar, o ponto de equilíbrio, defesa-ataque.
    É verdade que só tem 50% de aproveitamento. O verdadeiro teste ainda está por vir, hoje, diante do Santos.
    A ausência de Felipe Bastos será sentida. Agora te pergunto: por que ele não era titular com o Enderson?
    São esses critérios que derrubam um técnico!

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  3. Walace e F. Bastos são jogadores de confiança de Felipão. Cada técnico tem suas preferências. Neste caso os caras entraram bem, ganharam espaço e fazem jus a titularidade.
    Mas no jogo pela Copa do Brasil, com apenas dois volantes às coisas não aconteceram. "Desta vez" o time foi bem, a derrota não passou pela falta de comparação. Foi azar mesmo.

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