Liberdade contratual no futebol em xeque
O Brasil tem por tradição intervir na vontade das pessoas, na sociedade em geral. É da nossa cultura mesmo. A liberdade é relativa em nosso país, nem tudo que se quer acordar (acertar em contrato), se pode e/ou tem validade (valor legal). No Estados Unidos, por exemplo, a contratação é bem mais livre do que aqui. Lá os contratos detém uma força muito maior se comparado ao “pacta sunt servanda” tupiniquim. Exemplo disso? O casamento! Enquanto lá um pacto antenupcial pode prever desde indenizações em exposições sem autorização do “noivo” na Internet (Redes Sociais), até reparações em dinheiro em casos de adultérios, por aqui esse documento se resume meramente a identificar o regime patrimonial do matrimônio. A regulamentação deste relacionamento é quase que estritamente pela Lei. Você escolhe o regime e se enquadra a ele, nada mais.
Temos também as constantes intervenções estatais com a desculpa de “equilibrar” ainda mais essas coisas. Cotas sociais/raciais, taxas de juros, tributos (isenção/redução deles), benefícios... ações governamentais que motivam ou desmotivam certas situações. Assim são nas relações comerciais, trabalhistas, de consumo, quase tudo.
Quase tudo! Porque nas convenções em contratos esportivos o caminho é inverso. Voltemos um pouco no tempo para entender isso melhor.
Temos também as constantes intervenções estatais com a desculpa de “equilibrar” ainda mais essas coisas. Cotas sociais/raciais, taxas de juros, tributos (isenção/redução deles), benefícios... ações governamentais que motivam ou desmotivam certas situações. Assim são nas relações comerciais, trabalhistas, de consumo, quase tudo.
Quase tudo! Porque nas convenções em contratos esportivos o caminho é inverso. Voltemos um pouco no tempo para entender isso melhor.
Futebol ostentação! Farra, mulheres e grana, MUITA grana
Desde a Lei Pelé (9.615/98) de 24 de março de 1998, o direito de “passe” dos atletas em favor dos Clubes foi extinto no Brasil. Algumas mudanças foram introduzidas no processo para justificar a formação dos jogadores de futebol. Podemos citar a janela de transferências, o direito de formador, cálculos de rescisão distintos (permitindo diferentes percentuais em relação às transferências internacionais e nacionais), por aí vai. Nada se mostrou eficiente e a Fifa acabou criando uma comissão para discutir a participação de investidores nos clubes de futebol (terceiras partes). Segundo Martín Fernandez “A primeira reunião do grupo acontece na semana que vem, em Zurique, e terá apresentações de especialistas nos mercados de Brasil, Portugal e Inglaterra. O caso brasileiro é considerado o mais problemático. Serão analisadas na Fifa as situações de três clubes de elite do futebol do Brasil. Cada um tem entre 45 e 60 jogadores profissionais registrado. E menos de 20% desses jogadores pertencem integralmente aos clubes” [01].
Joseph S. Blatter - presidente da FIFA
Como se observa na reportagem constatou-se que entre 80% e 90% dos jogadores do futebol no Brasil tem seus direitos divididos entre Clubes e investidores.
Outra matéria jornalística interessante foi a entrevista do Sr. Antenor Angeloni (homem forte do Criciúma), pronunciando uma série de manifestações que chama a atenção ao problema. Vejam alguns destaques:
Outra matéria jornalística interessante foi a entrevista do Sr. Antenor Angeloni (homem forte do Criciúma), pronunciando uma série de manifestações que chama a atenção ao problema. Vejam alguns destaques:
“Presidente, podemos garantir a permanência do Tigre na Série A em 2015? R.: Meu caro, se quisermos continuar tendo futebol precisamos ficar na Série A. Avai e Joinville têm que voltar logo.
A Série B não é um bom campeonato, presidente? R.: É uma desgraça. Financeiramente, digo.
E a ética no futebol, presidente. Não existe mais? R.: Já sei, estás falando do técnico do Avaí. Deus me livre mandar tirar um profissional do Avaí ou qualquer outro clube.
O futebol está caro, presidente? R.: Olha, não há em Santa Catarina nenhum time capaz de se manter com os absurdos que estamos vendo. Se não houver uma mudança não sei como isso vai terminar.
E vai mudar? R.: Nada. Essas reuniões na CBF para tentar alguma coisa não dão em nada. Não vai mudar nada”. [02]
Antenor Angeloni
Por isso a Fifa (órgão supremo do futebol) deve tentar regulamentar esse mercado criando uma espécie de regulamento, algo novo a ser posto em prática sob pena de o esporte em países de economia mais fraca como a nossa se tornar impraticável.
O problema não reside unicamente no grupo de elite da bola. Os pequenos Clubes do Brasil sofrem ainda mais pelo movimento desta máquina que transformou o país em um exportador de jogadores altos, fortes e tecnicamente aplicados. Perdemos nossa identidade porque os times precisam da grana! Para formar zagueiros e volantes tão procurados pelo mercado externo, a metodologia mudou. Alto rendimento custa uma nota preta, formar “jogadores/cavalos” demanda muito mais ciência do que habilidade das comissões técnicas de base. Para sobreviver, paramos de garimpar craques para lapidar “caras grandes”.
O problema não reside unicamente no grupo de elite da bola. Os pequenos Clubes do Brasil sofrem ainda mais pelo movimento desta máquina que transformou o país em um exportador de jogadores altos, fortes e tecnicamente aplicados. Perdemos nossa identidade porque os times precisam da grana! Para formar zagueiros e volantes tão procurados pelo mercado externo, a metodologia mudou. Alto rendimento custa uma nota preta, formar “jogadores/cavalos” demanda muito mais ciência do que habilidade das comissões técnicas de base. Para sobreviver, paramos de garimpar craques para lapidar “caras grandes”.
O baixinho Romário teria chances em um peneirão de hoje?
Escolinhas de futebol são formadas sem o propósito de FAZER FUTEBOL e sim formar brucutus. O conceito de “inclusão social” (outra vertente) se espalha em ONG’s da bola parceiras do poder público e alguns ramos da iniciativa privada, mas não forma atletas porque o foco é outro. Tudo se transformou em um grande negócio. A idéia do “Rei do futebol” colaborou para o “caos” porque trabalhou a sua Lei voltada na proteção dos jogadores de alto padrão, exatamente como ele foi ao passado. O problema é que esta regra esqueceu-se de amparar aqueles 99,99% dos atletas profissionais de futebol que sofrem com essa realidade. O mesmo digo em relação aos times. O Bom Senso FC tem um discurso que visa defender esse grande grupo de jogadores desamparados por esta realidade (apesar de eu não acreditar seja este o verdadeiro propósito do movimento).
Sem a sua real identidade, nosso futebol está refém de um mercado financeiro cada vez mais avassalador. Enquanto os euros e os petrodólares são troco lá fora, aqui representam uma verdadeira fortuna. Como competir? Um contexto globalizado colocou os “desiguais” em par de “igualdade” nesta batalha desleal. Não há uma preocupação com os pequenos times em relação aos grandes (internamente falando) também. Destruímos o que tínhamos de melhor no esporte. Dezesseis anos de Lei Pelé, toda falta de sensibilidade dos homens forte do futebol neste período mudaram radicalmente as coisas por aqui.
Sem a sua real identidade, nosso futebol está refém de um mercado financeiro cada vez mais avassalador. Enquanto os euros e os petrodólares são troco lá fora, aqui representam uma verdadeira fortuna. Como competir? Um contexto globalizado colocou os “desiguais” em par de “igualdade” nesta batalha desleal. Não há uma preocupação com os pequenos times em relação aos grandes (internamente falando) também. Destruímos o que tínhamos de melhor no esporte. Dezesseis anos de Lei Pelé, toda falta de sensibilidade dos homens forte do futebol neste período mudaram radicalmente as coisas por aqui.
Qual o verdadeiro interesse da CBF? A condução do trabalho está correta?
Antes tudo era muito amador (é verdade), mas a evolução para um profissionalismo muito caro transformou esse negócio em algo indecente, inoperante e inaplicável na realidade (condições) dos Clubes do nosso país.
Venho batendo nesta tecla desde a criação do Blog há quase quatro anos atrás. Tornou-se inviável fazer futebol. Fabricar jogadores “tipo laboratório” virou um baita negócio. Nutricionistas, fisiologistas, preparadores físicos e tantos outros profissionais desta ordem não fazem mais um trabalho secundário, eles se tornaram fundamentais. Peneiras, seleções e todo processo de ingresso da garotada nas categorias de base estão sendo feitas em observância ao tamanho do candidato, porque a técnica virou artigo de segunda linha. Futebol é algo que se ensina? Nos treinos esses meninos não podem dar um drible sequer. Acabou a molecagem, não pode inventar. Até porque a maioria que estão lá nem tem condições de fazer isso. Robôs de resultado! “Força, foco e fé”.
Precisa a Fifa vir lá de fora dar um jeito nesta balbúrdia? Até pra eles se tornou vexatório a surra de 7 x 1 que sofremos dentro do campo, bem como esta outra surra que tomamos todos os dias nos bastidores da bola.
Venho batendo nesta tecla desde a criação do Blog há quase quatro anos atrás. Tornou-se inviável fazer futebol. Fabricar jogadores “tipo laboratório” virou um baita negócio. Nutricionistas, fisiologistas, preparadores físicos e tantos outros profissionais desta ordem não fazem mais um trabalho secundário, eles se tornaram fundamentais. Peneiras, seleções e todo processo de ingresso da garotada nas categorias de base estão sendo feitas em observância ao tamanho do candidato, porque a técnica virou artigo de segunda linha. Futebol é algo que se ensina? Nos treinos esses meninos não podem dar um drible sequer. Acabou a molecagem, não pode inventar. Até porque a maioria que estão lá nem tem condições de fazer isso. Robôs de resultado! “Força, foco e fé”.
Precisa a Fifa vir lá de fora dar um jeito nesta balbúrdia? Até pra eles se tornou vexatório a surra de 7 x 1 que sofremos dentro do campo, bem como esta outra surra que tomamos todos os dias nos bastidores da bola.
Saudações Coloradas
[01] FERNANDEZ, Martín. Pelo menos 80% dos jogadores brasileiros estão fatiados entre clubes e investidores. Portal Globo.com – Bastidores F.C. <disponível em http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/bastidores-fc/post/pelo-menos-80-dos-jogadores-brasileiros-estao-fatiados-entre-clubes-e-investidores.html>, acesso em 25/08/14
[02] Presidente Angeloni, do Criciúma: "A Série B é uma desgraça e os técnicos ficaram loucos". Portal ClicRBS – Diário Catarinense <disponível em http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/esportes/noticia/2014/08/presidente-angeloni-do-criciuma-a-serie-b-e-uma-desgraca-e-os-tecnicos-ficaram-loucos-4585363.html>, acesso em 25/08/14
[02] Presidente Angeloni, do Criciúma: "A Série B é uma desgraça e os técnicos ficaram loucos". Portal ClicRBS – Diário Catarinense <disponível em http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/esportes/noticia/2014/08/presidente-angeloni-do-criciuma-a-serie-b-e-uma-desgraca-e-os-tecnicos-ficaram-loucos-4585363.html>, acesso em 25/08/14
Imagens: Site Janete a Estranha, Blog 98 Curitiba, Globo.com, Blog Nó Tático e Esportes R7




































