quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil 1 x 7 Alemanha

A maior vergonha da história do futebol brasileiro

Falar agora é fácil! Muitos chegam ao extremo de misturar o resultado de ontem com assuntos políticos (falarei disso ao final). Prefiro, em primeiro momento, me ater ao critério técnico e esportivo. Explicar o inexplicável, argumentar contra ou à favor de algo inimaginavelmente possível é tão difícil que qualquer “entendedor” dos assuntos da bola pode se perder nas palavras. Mas vamos “ao menos” tentar tecer uma crítica...
 
Vexame!

A construção desta seleção começou há muito tempo, quando Dunga foi demitido e Muricy voltou atrás na decisão de assumir o cargo, dando lugar para Mano Menezes começar o projeto “Copa no Brasil 2014”. Disse aqui no Blog, inclusive, que o treinador do São Paulo, na época do Fluminense, preferiu desistir do “sonho de qualquer técnico de futebol brasileiro” alegando sua fidelidade ao contrato com o clube carioca quando, na verdade, lhe imposto foi pela CBF uma “obrigação” de renovar o grupo. Isso ele não aceitou!
Mano, então, fez este trabalho. Aceitou o cargo com este encargo. Uma passagem tórrida e muito turbulenta pela seleção, perdendo a medalha de ouro na final das Olimpíadas e a protagonizando a desclassificação do time de forma tão precoce na Copa América. Renovação tem disso. Mesmo depois de vencer a Argentina nos pênaltis fora de casa naquela disputa caseira com os “hermanos”, o técnico caiu. Em cima da hora, Felipão assumiu o cargo repetindo tudo aquilo aconteceu no mundial de 2002. Trouxe consigo P. Paixão., C. Parreira, bastante gente de primeira!
 
Vergonha histórica a nível mundial

Como não tínhamos mais o respeito dos adversários, as equipes começaram a encarar o Brasil de igual para igual, sem medo, sem receio. Aproveitando-se disso, Scolari fechou consigo aquele grupo com jogadores jovens (dentro da renovação imposta) com poucas mudanças. Recebeu estes jogadores um pouco mais maduros depois de vários meses comandados por Mano e venceu incontestavelmente a Copa das Confederações em 2013. Felipão apostou todas as suas fichas em Neymar, montando um esquema que não sobrecarregava tanto o garoto, mas lhe dava total liberdade para jogar (e resolver).
Tudo vinha dando certo, o povo abraçou a seleção e, mesmo aos trancos e barrancos, o time chegou nesta semifinal contra a Alemanha. A geração germânica montada em 2006, com experiência adquirida em 2010 sabia que estava no auge vivendo “quem sabe” a última chance de levantar a taça da Copa do Mundo. O Brasil sem Neymar não havia “sequer tentado” outra forma de jogar (um jeito diferente) desde o ingresso de Felipão. Mesmo assim, confiantes, os membros da comissão técnica foram ousados optando por Bernard, visto que a estrela do time estava fora da competição. Reserva em seu time e mesmo sem ritmo, o fator local (jogar em MG) e todo o apelo popular (não havia uma enquete sequer que apontava outro jogador senão Bernard para entrar no time titular) pesaram, logo o jovem atacante recebeu a chance. O meio-campo não teve Willian desde o início e faltava no elenco um jogador “mais maduro” para colocar a bola debaixo do braço para chamar a responsabilidade no momento de desespero.
 
Lágrimas de todo um povo apaixonado por futebol

A partida começou com dois pensamentos distintos: os alemães focados em vencer para ter a última chance de coroar toda esta geração com o título mundial no domingo, os brasileiros pensando em homenagear Neymar, final no Maracanã, clássico contra a Argentina, etc. Não estávamos prontos para a Alemanha, ainda mais saindo perdendo. O gol deles saiu cedo. Até começamos bem, mas depois do segundo gol, a coisa desandou como em uma pelada de futebol jogada na várzea. Os adversários tiraram o pé por clemência, sete saiu barato.
Oscar jogou errado durante a Copa inteira! Quando lhe ofertaram a condição de sair da ponta para atuar no meio, não conseguiu e estava todo “cagado” de novo. As manutenções de Maicon e Fernandinho na equipe foram acertadas, mas os chutões para a frente em ligações diretas era tudo que os alemães precisavam. Jovens, imaturos e sem o cara que “podia” resolver ou fazer algo diferente, bastou esperar. Desconcentrados, tontos, perdidos, foi como pegar um bêbado na rua e dar uma surra. Não tínhamos força de reação, organização, nada!
 
Falta de foco e concentração

Assim, precisamos entender que este 7 x 1 começou ser construído lá atrás, muito antes disso tudo. Dunga resolveu bater de frente com a mídia, faltou inteligência e jogo de cintura para conduzir isso. Outro erro foi impor ao treinador “renovar”, não convocar os melhores igualmente fizeram nos tempos da geração pentacampeã (lá havia qualidade para tal). Isso vai totalmente contra ao conceito de seleção. A imposição da imprensa e a massa de manobra que nos tornamos por faltar de cultura para criar uma opinião própria despregada de vícios, contribuíram e vão contribuir por muito tempo com isso também. Felipão não tinha um “plano B” (não houve tempo de construí-lo). Mano Menezes foi o “boi de piranha” tal qual Luxemburgo também tinha sido em momento anterior assumindo o cargo com esta maldita e tão repetida “obrigação” de renovar um grupo sem poder chamar os melhores. Muricy enxergou isso tudo, muito antes de todos nós e agora se deleita em sua razão.
Em 2002 deu certo, é verdade, mas naquela ocasião Felipão se deu ao luxo de dispensar o Romário, por exemplo, porque tinha em mãos nomes como de R. Gaúcho, R. Fenômeno e Rivaldo no auge para chamar. Sem contar com o então menino Kaká, à disposição dele também. As bases se tornaram fabricantes de atletas “tipo exportação”, então é balela argumentarmos neste momento que o futebol brasileiro regrediu. NADA DISSO! Na verdade os Clubes de futebol se adaptaram ao mercado, primeiro porque a produção de jogadores fortes e aplicados taticamente são as peças mais procuradas lá fora e porque a Lei Pelé extinguiu o passe. As contas precisam ser equilibradas e transformamos nosso esporte paixão nacional em outro, diferente daquele que conhecíamos antes.
O jogo em si representa tudo que estou dizendo! Errou a CBF, errou a legislação, errou Mano Menezes, errou Felipão, erraram os jogadores, errou a imprensa e errou a torcida – TODOS NÓS (que assim como eu) nos deixamos levar pela ilusão de que uma geração em mera formação, com um único destaque individual, poderia levantar a taça. Maracanazzo, Argentina em 90, Paolo Rossi em 82 ou o ataque epilético de Ronaldo em 98, NADA DISSO MAIS soará tão forte depois do pior episódio da história da seleção brasileira.
 
A pior derrota da nossa seleção em todos os tempos

Mudanças virão no futebol? Este é o lado bom? Duvido muito! O mercado ditou as regras e os Clubes precisam dançar conforme a música. Qual o legado então? Ficam as marcas da humilhação, do vexame e da tristeza depois que a estrutura se tornou tão frágil e a formação na base tão previsível (robotizada).
Para quem confunde o esporte com a política, você é um idiota! Aquele que torce à favor para defender a situação ou torce contra pensando na alternância do poder, tenha vergonha na sua cara. Esse pensamento estraga nosso país! Tínhamos TODOS que torcer INDEPENDENTEMENTE disso. Egoístas, partidaristas que só pensam no próprio rabo. Sou brasileiro e mesmo que o resultado de ontem tenha sido essa porcaria, já tinha e tenho meu voto definido antes mesmo do início da Copa do Mundo. Tanto aqueles que estão no poder ou pretendem estar, defendendo ou acusando a seleção para formar opinião, PROVAM com isso que o interesse individual está acima do interesse coletivo. Por isso este país não sai do lugar, ainda mais por estarem certos quando conseguem manobrar a massa com isso. Pelo fim dos conchavos, mudanças de partido e jogos de interesse em todo momento, votemos sem pensar em futebol... isso é só um jogo.
 
Saudações Brasileiras
 
Imagens: Portais R7 e Globo.com

4 comentários:

  1. TODOS os nossos jogos foram sofridos e sem energia. Até contra um Camarões desunido e eliminado ganhamos com as calças na mão. Seleção muito mal convocada. Um país como o nosso não pode jamais depender somente de um jogador. Parabéns à seleção alemã.

    ResponderExcluir
  2. Rafael,

    Parabéns pelo comentário o qual eu gostaria de ser o autor, pois concordo de início ao fim com ele, e enfatizo o último parágrafo onde fala dos "pseudo políticos" de ocasião, que tentam usar em seu proveito eleitoral o sentimento de decepção ESPORTIVA do povo brasileiro. E é exatamente como dizes: independente de serem situação ou oposição, esses escrotos alquimistas dos sentimentos populares estão à espreita para manipularem a opinião de quem não tem capacidade de formá-la sozinho. Infelizmente uma boa parcela do nosso povo se encaixa nesta definição, e se tornam instrumentos de uso fácil para os vigaristas profissionais que à décadas circulam nos meios políticos do País.
    No Futebol, sentimos um forte abalo nas estruturas da CBF que deve ter alguma reação em breve, assim que finalizar esta Copa que apesar dos pesares e da anterior torcida contra, está sendo uma das melhores já vista no mundo do futebol. Não vou nem discutir o legado, mas uma das maiores vitórias que considero, foi o fato de nossa polícia muitas vezes execrada e desvalorizada, ter sido a autora, com a colaboração de outros órgãos externos, da prisão e desbaratamento da quadrilha internacional de tráfico de influências e de ingressos que atuava à pelo menos quatro Copas!

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Estimados companheiros do Boleiro Gaúcho,

    Muito oportuna essa abordagem! Excelente tema e excelente comentários de ambos, Rafael e Marcão, os quais admiro pela excelência e pelo decoro nas discussões.
    No entanto, não ficou muito claro, o que queremos dizer com “política” quando falamos de futebol, que a meu ver não deixa de ser também política.
    Recentemente, uma greve dos professores no Paraná foi taxada de um movimento político, quando na verdade, tratava-se de uma antiga reivindicação da categoria, pois o governo estadual não cumpria a lei Federal.
    O cidadão comum acreditava se tratar de um simples movimento político, o que não estava totalmente errado, nem totalmente certo, pois tudo envolve política.
    Política é o que a CBF gerenciou ao longo de toda sua existência – de Teixeira até Marín.
    Muitos enriqueceram no futebol, mas em que essa gestão contribuiu para estruturar o futebol brasileiro? Não seria responsabilidade também da CBF ajudar os clubes a construir estádios modernos e não tão somente o governo com dinheiro público?
    Coube ao atual governo investir nesse projeto de tornar a Copa no Brasil uma realidade. O que vamos fazer com esse dito “legado” é algo que é de responsabilidade de todos brasileiros.
    Sobre a separação entre os dois temas – futebol e política – concordo, por um lado, e discordo, por outro.
    Se estamos falando de atitudes como de mandar a presidente “tomar no tomate cru” num estádio cheio de estrangeiros, ou de queimar ônibus de transporte coletivo cheio de trabalhadores, então concordamos. Sou totalmente contra uma atitude bestial dessa natureza.
    Mas se estamos falando de grandes líderes, de gerenciamento e comando, eu vejo muitas coisas em comum, na política e no futebol. Um exemplo bem claro é quando se trata de falar tanto da presidente da República do Brasil quanto do treinador da seleção Brasileira de futebol.
    Alguns aproveitadores focam nos aspectos negativos dessa Copa, fazendo “terra arrasada”, a partir da goleada da seleção. Há alguns hipócritas que falam em crise de todo o tipo: crise da moral, crise econômica, crise política, enfim, crise de não termos uma crise.
    Se o Brasil não tivesse construído estádio, não faltariam críticos dizendo que o país é atrasado, que a Copa nunca daria certo, que esse é um país é uma vergonha, etc.
    Sempre teremos os descontentes, os frustrados por natureza.
    No futebol, não faltam aqueles que condenam Felipão por não ter jogado com três volantes diante da forte equipe da Alemanha. Ora, o Brasil poderia perder ou não, da mesma forma, com ou sem volantes, com ou sem Fred, com ou sem Bernard. Foi uma questão de escolha do treinador, mas como na política, não faltam os que se aproveitam disso.
    Nosso maior problema, a meu ver, não foram os erros, as escolhas, e as opções tanto da presidente quanto do treinador.
    Nosso maior problema, são os aproveitadores de plantão, os que se dizem cronistas, os que se consideram críticos, os visionários, os superintendentes de tudo, seja do futebol, seja da política.
    É impressionante o número de cronistas e comentaristas, especialistas em tudo, observados nos principais meios de comunicação, que com grande sabedoria avaliam e comentam como se fossem donos da verdade.
    Eu observo com desconfiança seja os comentaristas das grandes redes de televisão, jornais, seja os políticos de oposição ao atual Governo da República Federativa.
    O mais curioso é que, muitos desses nomes, nunca foram grandes exemplos a serem seguidos. Alguns tiveram condutas estranhas como cidadãos, como políticos, outros fracassaram como técnicos de futebol, no entanto, sempre carregam uma fórmula mágica, uma lição moral ou técnica para resolver nosso problemas.

    ResponderExcluir