Os heróis de Oruro

Sete corintianos voltaram, cinco permanecem detidos

 

Uma inversão de valores nos parece ter sido o maior destaque no retorno dos sete integrantes dos Gaviões da Fiel presos na Bolívia, todos acusados pela morte de um jovem torcedor local.

 

Inicialmente encarados como bandidos, os torcedores corintianos retornam com o status de heróis, vítimas de um sistema jurídico confuso e muito mal elaborado que se desenrolou na Bolívia ao longo dos últimos meses. Um assassinato que se tornou em incidente diplomático, algo já comentado aqui mesmo no Blog tempos atrás.

 

Assassinato?

 

Claro que sim, um assassinato! Quem dispara um morteiro em cima de um grupo de pessoas assume o risco de matar algum semelhante.

 

Mas quem foi o culpado?

 

Um adolescente que confessou o disparo, menor inimputável segundo as leis do nosso país se encontrava em solo brasileiro quando buscou as autoridades. Tão logo, sua extradição tornou-se inviável e uma penalização no Brasil poderia ser aplicada somente mediante ações sócio-educativas, em vista de sua menoridade penal.

 

Teria sido ele mesmo o atirador ou o garoto foi usado de bode expiatório?

 

Não se sabe... mas quem teve acesso à entrevista do pai daquele menino assassinado concluiu que o governo boliviano, assim como ele, sempre soube que aqueles doze torcedores não cometeram o ato propriamente dito. O que se procurou averiguar, em face do corporativismo comum nos movimentos de torcidas organizadas, foi o verdadeiro assassino, uma delação que os premiaria com a liberdade.

 

Não houve confissão e, como dito no popular, “X9” não tem vez “mano”!!!

 

Cobertura intensa da Mídia no desembarque dos corintianos

 

Seria uma leviandade de minha parte comparar agora a torcida organizada Gaviões da Fiel a uma facção criminosa, porém, as ações e as omissões nos levam a crer em uma acobertação covarde, algo mais institucional do que pessoal propriamente dita.

 

Por isso aplico uma analogia agora!

 

Se compararmos o que ocorreu até agora com uma parcela considerável dos crimes cometidos no Brasil, podemos dizer que facções criminosas e organizadas colocam crianças e adolescentes na linha de frente dos atentados criminosos, uma blindagem que mantém nas ruas os verdadeiros bandidos. Desde muito pequeno, o aspirante à marginal aprende que “dedo duro” acorda com a boca cheia de formiga.

 

O corporativismo das torcidas (não somente nos Gaviões da Fiel) é algo tão forte que os torcedores recém liberados nem queriam voltar! O pacto firmado entre eles sempre foi à saída de todos juntos da cadeia. Estes sete primeiros corintianos a voltar tiveram que ser praticamente expulsos da penitenciária, pois queriam ficar juntos aos demais membros não liberados ainda.

 

Justiça seja feita, não há prova alguma contra os doze corintianos. A imagem gerada a partir da cobertura televisiva do jogo não comprova absolutamente nada. Outro ponto importante é o conjunto de fatos que nos levam a crer sim na inocência dos brasileiros presos na Bolívia, mas como ninguém tem a obrigação de criar prova contra si mesmo e os direitos humanos que tanto influenciam nas Leis penais do mundo não permitem confissões forçadas ou sob tortura, a verdade NUNCA será esclarecida.

 

Ficam só perguntas:

 

Será que os doze torcedores não sabem quem realmente cometeu o disparo do sinalizador?

 

Será que o assassino confesso menor de idade realmente foi o autor do crime?

 

Até quando os times brasileiros vão ser hostilizados jogando fora de casa pela Libertadores? Policiais chegam ao cúmulo de segurar escudos para os jogadores brasileiros possam cobrar um escanteio, por exemplo.

 

Porque sete foram liberados e os outros cinco ainda não?

 

Será que um dia aquele pai e a aquela mãe que perderam seu filho vão ter paz no coração novamente?

 

Nada disso eu sei, mas como define o dicionário, uma coisa possa afirmar: “HERÓI - Homem que suporta exemplarmente um destino incomum, como, p ex, um extremo infortúnio ou sofrimento, ou que arrisca sua vida abnegadamente pelo seu dever ou pelo próximo. Personagem preeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza”.

 

Essa definição se enquadra a algum envolvido neste episódio? Acho que estes torcedores estão longe de ser tratados como heróis. Não somos ninguém para julgar, muito menos para aceitar tudo como se nada tivesse acontecido.

 

Saudações Coloradas

 

Fonte de pesquisa: Dicionário Michaelis

Imagem: Portal Veja