segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Parcimônia

O ano em que a torcida brasileira deverá ter paciência

Depois do período de “vacas gordas”, o futebol nacional intensifica ainda mais uma tendência já iniciada no ano passado. Clubes atravessando dificuldades gigantescas combinado com uma crise financeira que influencia o mercado brasileiro como um todo é a fórmula da nova realidade que ditará as regras no ano pós Copa. Um fenômeno que se estende e que parece permanecer por mais um bom tempo.

 Seedorf desembarca no Brasil em um tempo diferente, nem tão distante

Antes de tratar de situações pontuais projetando a temporada de alguns dos principais times do país, precisamos entender que a grande maioria das equipes se endividou no passado recente com contratações extravagantes. Muitas fora da nossa realidade. Alguns clubes, inclusive, tiveram de antecipar quotas de mídia de dois, três ou até quatro anos para acompanhar os demais. Tivemos também aqueles que investiram em estrutura, outra conta alta para pagar. Essa, no entanto, deve assegurar receitas importantes. Sem contar dívidas antigas em impostos e outras coisas mais.
 
Arena do Palmeiras promete ser o trunfo do clube paulista para gerar receita

Bom... a forte tendência de enxugue, pauta deste mesmo Blog no início de 2014, vem mais forte agora. Nenhum torcedor pode crer que seus ídolos ficarão muito tempo ou que grandes nomes virão a vestir a camisa do seu time do coração. Tudo isso passa a ser cada vez mais raro. O que já era comum ficará mais evidente, tal seja, um futebol repleto de jogadores muito jovens, daqueles que não tem mais espaço no exterior ou que não possuem qualidade suficiente para um contrato estrangeiro.
 
 Jogadores de nome atuando no Brasil? Raridade cada vez maior...

Começamos pelo Flamengo que, acertadamente, mantém sua política de “colocar as contas em dia”. Estima-se que o rubro-negro trabalhou ano passado com um orçamento de 260 milhões de reais, cujos 200 foram usados para quitação de passivo e o restante em futebol. Com outros 5 milhões trancados, a direção deve usá-lo na tão sonhada reformulação de seu CT. No entanto, entendidos dizem que serão necessários, ao menos, mais três ou quatro anos nesta caminhada para saldar o que é necessário para a entidade voltar a crescer. Os flamenguistas terão paciência? O Botafogo foi a maior vítima de tudo que aconteceu! Não podemos diminuir a culpa da direção, mas a grande “sacanagem” ao qual o clube foi submetido com a interdição do Engenhão (um estádio contruído com dinheiro público para o Pan do Rio arrendado com pouquíssimo tempo de uso) foi a maior rasteira de todas. Aí não existe milagre! O Fluminense vive uma intensa batalha entre o presidente e a direção da patrocinadora. O desmanche parece inevitável. Sem um planejamento adequado, o Tricolor corre um iminente risco de ser mais um time fracassado no pós-parceria, um fenômeno muito comum no Brasil (MSI, ISL, Parmalat, etc). No Vasco, não adianta! Ruim com Eurico, pior sem ele... quebrado e às favas após um péssimo trabalho de R. Dinamite que só agravou o problema na sua passagem pela Colina, o clube precisa reaver seu espaço de time grande urgentemente. Eurico Miranda não tem condições de resolver nada sem recursos, assim como todos os times do Rio que chegam sem maiores expectativas para a temporada. Contudo, o novo-velho presidente é forte politicamente e deve usar sua influência para tal. Haja paciência do torcedor carioca!
 
 Eurico promete colocar o Vasco em seu devido lugar

Em São Paulo, o Corinthians de Tite e o Tricolor de Muricy conseguiram manter uma base. Perderam e estão perdendo jogadores importantes, mas chegam fortes sim com o que tem. No Timão a situação está mais complexa por conta das eleições, ou seja, nem é possível traçar um planejamento mais apropriado mesmo em fase pré da Libertadores. Um momento turbulento que “pode” prejudicar as coisas dentro de campo. O certo é que ambos têm camisa e um grupo qualificado para se destacar. Nenhum acena contratações de impacto, nomes de expressão. Manter o que tem já estaria bom, principalmente Guerreiro no Parque São Jorge ainda com situação indefinida. O Palmeiras é uma situação “aparentemente” contrária. Aparente porque trouxe uma série de refugos, tal qual o Cruzeiro fez anos atrás. Logo, nem foi “tão alto” o investimento como se pensa. Os mineiros quase foram rebaixados, mas aquele grupo deu a volta por cima e conquistou dois campeonatos brasileiros. De repente, seja isso que o time palestrino precise. Provado está que não é a contratação de um time todo novo que garante títulos logo no ano de formação de elenco. Então, mais gente que precisa de paciência! Interessante lembrar que o presidente da instituição “emprestou” 160 milhões ao próprio clube que dirige se tornando seu principal credor. Sem despesas com a Arena já concluída, as receitas devem aumentar. Importante frisar também que em 2014 o mesmo Palmeiras investiu 36 milhões em futebol e agora essa conta nem chegou à casa dos 28 milhões. Seria a fórmula cruzeirense do “bom e barato”? Eu acredito em sucesso (caso haja sequencia), mas não em 2015. Na Vila Belmiro, a meu ver, a maior das injustiças por parte da “crônica especializada” até agora. Os mesmos “entendidos da bola” que aplaudiam a permanência de Neymar por tanto tempo no Brasil agora criticam o Santos pela falta de dinheiro que “deveria” vir com a sua saída. É lógico que isso aconteceria! O garoto percebia uma remuneração digna de um atleta de ponta que atua na Europa. Um esforço descomunal para nossos padrões. Além disso, para renovar, é claro que uma série de exigências seria imposta por seu pai/empresário. Tal feito, o menino deixou um legado de arte, show, com os canecos da Copa do Brasil, Libertadores e alguns Paulistões na prateleira, mas tudo ao custo de um vencimento incompatível com a nossa realidade financeira. Hipócritas! Oportunistas! Lembro bem uns 90% destes mesmos falastrões de Rádio e TV ovacionando a permanência dele e agora chegando ao cúmulo de colocar em dúvida o negócio feito com o Barcelona. Era tão lógico o que aconteceu quanto dois e dois são quatro! Mas estes mesmos preferem a polêmica, a falsa informação a título de ibope sujo e barato. Quebrado, o Santos não é vítima. Sua incompetência custou caro demais. Depende agora da força de sua camisa, alguns nomes do passado e uma penca de jogadores meia-boca mesclado com promessas para encarar 2015. Mais paciência!

 Luta dos times paulistanos por Dudu... isso foi proporcional? Valeu todo esse desgaste?

Minas Gerais tende a sofrer diretamente uma forte pressão contra sua hegemonia. Por várias vezes debatemos aqui a situação econômica de Cruzeiro e CA Mineiro. Os dois estão perdendo nomes importantes. Uma hora essa bolha iria estourar. Além disso, aquilo que “foi barato” se valorizou. O time celeste “parece” ser mais incisivo nas reposições e deve chegar mais forte que o rival. Apesar dos apesares, os dois se juntam a Corinthians e São Paulo como grandes forças da temporada. Não podia ser diferente em ano de Libertadores! Com a competição no calendário, não dá pra economizar enxugando mais do que estão fazendo. Mesmo assim fica registrado que nenhum aparece forte como nas temporadas anteriores e o torcedor terá de compreender.
 
 D. Tardelli vai pra China com contrato de 4 anos... vencimentos que giram em torne de 1 milhão por mês

Enfim, chegamos ao Rio Grande do Sul! Depois de um 2013 de altos investimentos em futebol, o Tricolor baixou sua folha consideravelmente na temporada passada e assim o faz mais ainda agora. Não vai ser um ano fácil para o Grêmio. Um mal necessário, visto que a direção trabalha intensamente para baixar sua despesa mensal com a Arena, retomando o comando de sua casa para si. No Inter a base foi mantida. Contratações pontuais foram feitas e uma nova filosofia de trabalho (com um time mais defensivo) tende a pintar no Beira-Rio. Nada de “parar o futebol”, no entanto, nomes que enchem seu torcedor de esperanças desembarcaram em Porto Alegre. O atual mandatário já anunciou que não pretende investir no CT de Guaíba, ou seja, podemos entender que o foco total dessa gestão é em futebol. Seria acertado deixar os avanços estruturais de lado ou um tiro no próprio pé? Só o tempo irá dizer. O certo é que o Colorado vem para fechar a quinta grande força do ano.
 
A nova realidade gremista
 
Como sempre, os representantes na Libertadores ostentam as maiores expectativas. Relevante lembrar que o enfraquecimento dos elencos por conta da realidade financeira já afastou os brasileiros da fase final da Libertadores no ano passado.
Como será em 2015?

Pitacos:

- SC e seu futebol emergente promete;
- Todos estão de olho no modelo de gestão catarinense;
- Nem grandes, nem pequenos... médias entidades fortes dentro e fora dos gramados;
- No PR nada de grande;
- Os investimentos estruturais sim!
- Curitiba promete estádios de dar inveja a todo país;
- Estrutura sempre será um importante alicerce;
- O interior paulista, sempre forte, havia dado um tempo no protagonismo nacional;
- Assim como em SC, a organização “caipira” tende a ressurgir no cenário;
- Isso porque a grana encurtou e o equilíbrio favorece o planejamento e a criatividade;
- O Nordeste é uma vergonha!
- Exceto o Sport que se manteve na elite e o Vitória (que apesar do rebaixamento) ostenta uma das melhores bases do país, não se vê nada de lá com boas perspectivas;
- No centro-oeste, novos times surgem;
- Mas é o Goiás que cresce a cada ano;
- Forte que é já tem um destaque positivo nas categorias de base também;
- O que falar do Norte?
- Nem os tradicionalíssimos Remo e Paysandu lembram os bons tempos.

Saudações Coloradas

Imagens: Lancenet, Veja.Abril, Esportes R7, Globo.com, Meu Timão, Cidade News e ESPN.Uol